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A sertaneja é, antes de tudo, uma forte
A frase original de Euclides da Cunha em “Os Sertões”, obra publicada em 1902, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte” é considerada uma das mais famosas da literatura brasileira.
Para diversos professores do curso de Pedagogia da UFT Miracema a frase, ao ser adaptada, também se tornou uma síntese da história da aluna Antônia Alves Soares Castanheira que, em 2025, completará 63 anos de vida e alcançará neste mesmo ano o diploma de licenciada em Pedagogia.
Natural de Tocantínia, Antônia é filha de João Leocádio Soares e Edna Alves Pugas. Sua infância foi marcada por todo tipo de mudanças (casa, cidade, entre outras) que expressavam a luta constante pelo direito a uma vida digna, mesmo com os desafios de saúde familiares e a escassez de oportunidade na região.
Com características de uma sertaneja, a jovem Antônia se viu, desde cedo, obrigada e contribuir no sustento da sua família, dividindo o tempo de estudo com o esforço laboral remunerado. Todas as dificuldades enfrentadas se tornaram fortaleza no desejo dos pais para que seus filhos tivessem “estudo”, pois assim teriam melhores condições de vida.
Para o professor Antonio Miranda de Oliveira, avaliador do Trabalho de Conclusão de Curso de Antônia, “Em sua Monografia, Dona Antônia não narra somente suas histórias individuais, mas as de todos os pobres dessa região.”
Para Antônia, que agora ruma para a formatura em Pedagogia, “Nas minhas memórias de infância apesar de enfrentar momentos difíceis acima citados, carrego um sentimento de um tempo bom e por que não dizer de felicidade”.
A luta de Antônia e sua família para que ela pudesse finalizar o hoje chamado Ensino Fundamental foi marcado por dificuldades e saudades que, ao final, proporcionaram à jovem sertaneja a aprovação no “famoso” curso Técnico em Magistério, no antigo Segundo Grau (hoje Ensino Médio).
Em 1992, veio o convite para trabalhar na Delegacia Regional de Ensino (DRE), nomenclatura dada ao órgão da educação na época, hoje Superintendência Regional de Educação (SRE). Em 1993, assume uma sala de Pré-Escola/Alfabetização no Colégio Santa Terezinha. Em 1994, a sertaneja, mãe de dois filhos pequenos, toma posse no concurso do magistério estadual.
Em 2001, ingressa no curso Normal Superior pela Unitins/Eadecon, que finaliza em 2003. No ano de 2018, Thales, acadêmico de Psicologia da UFT e filho de Antônia sofre um acidente fatal, mais um duro golpe na vida dessa sertaneja. Em 2022, após 30 anos de trabalho na educação, Antônia consegue a aposentadoria.
Em 2025, no dia 05 de março, Antônia Alves Soares Castanheira, sertaneja forte, defendeu o seu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC intitulado “Narrativas de si: memórias, sabores e saberes de uma professora” e foi aprovada, seguindo agora para a tão esperada formatura.
O professor Francisco Gonçalves, conhecido na UFT Miracema como Xico, assim sintetizou o trabalho da acadêmica Antônia: “O TCC em forma de Memorial, de Dona Antônia Castanheira, defendido dia o5/03/2025; portanto, há três dias do Dia Internacional da Mulher, é uma celebração do conhecimento da história da educação; pois, ao anunciar historicamente e contextualmente o seu processo educacional, revelou e denunciou a realidade da educação e as políticas educacionais locais (seja de Miracema; de Tocantínia; Rio Sono e cidades circunvizinhas), da região Norte e do próprio Brasil. Recomendo a publicação e muitas rodas de conversa com a participação de Dona Antônia sobre essa história, e a vida de uma profissional da educação no Tocantins em fins do século XX e início do século XXI. Agradeço a orientadora, professora Layanna Giordana Bernardo Lima, pelo convite ao exame do trabalho, juntamente com o professor Antônio Miranda e à acadêmica e já professora especialista Antônia Castanheira por nos proporcionar esse momento rico de conhecimentos e saberes”.
Para a orientadora de Antônia, professora Layanna, “A acadêmica Antônia Castanheira conseguiu registrar um pouco das suas memórias em um relato que apresenta o passado e presente da história da educação básica e superior no norte goiano. O texto possibilita uma leitura crítica do processo de formação docente. São memórias vivas da trajetória de uma estudante - professora que detalha o processo de acesso à escola, educação e profissão.”
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