Atenção!
Neurodiversidade docente: potencial para a inovação pedagógica
No momento em que nossa instituição encontra-se planejando seu próximo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), faz-se importante introduzir o debate sobre a neurodiversidade de seu corpo docente e a ocorrência de neurodivergências em professoras e professores.
Assim como vem ocorrendo na sociedade como um todo, também a universidade veio, nos últimos anos, assistindo a uma crescente escala de diagnósticos médicos que atestam o que já era de se prever: projeta-se que nossa sociedade esteja composta por 10 a 20% de indivíduos neurodivergentes, também neste seu recorte os números aproximam-se desse percentual.
Atualmente, a universidade garante os direitos de professores neurodivergentes com condições legalmente equiparadas a deficiências, de acordo com a previsão legal. Para que acomodações ou adaptações sejam providas, é necessário que se encaminhe o laudo médico para a unidade local do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass), que o submeterá à análise de um comitê médico que endossará, ou não, as demandas, que são encaminhadas ao setor de gestão de pessoas de cada câmpus.
É cabível que se questione a adequação desse atendimento, cujas características refletem não a nossa universidade em particular, mas a forma como nossa cultura tem abordado a neurodivergência e a relação desta com a vida laboral. O intuito deste texto, no entanto, não se orienta a essa natureza de questão. A intenção, aqui, é destacar a neurodiversidade do conjunto docente como um fator potencial na promoção de um atributo que é constitutivo do PDI vigente e que, tendo em vista o diagnóstico de sua operação até o momento, assim como o contexto da universidade brasileira como um todo, tende a seguir na centralidade no PDI que se anuncia: a inovação pedagógica.
Para além do apropriado lema “nada sobre nós sem nós”, utilizado pela comunidade PcD na luta por seus direitos, importa destacar que as características neurológicas desses docentes - com suas incidências sensoriais, menmônicas, comunicativas, atencionais e outras, cujas expressões sociais marcam uma diferença em relação ao que é considerado típico ou padrão, sendo o padrão a matéria mesma da forma - universidade vigente - informam ao processo de planejamento institucional e de ensino modos radicalmente outros de produzir, de conhecer e de dar a conhecer. Isso faz com que sejamos particularmente capazes de nos responsabilizarmos por proposições e processos disruptivos que estejam orientados à genuína inovação, à invenção e à renovação.
Para a UFT, aproveitar-se dessa rica matéria é uma realidade muito próxima, que se inicia com a garantia de protagonismo dos professores e professoras neurodivergentes no processo de construção do PDI - não apenas naqueles grupos de trabalho diretamente relacionados a acesso e inclusão mas, especialmente, quando se trata de produzir em torno do ensino no âmbito da graduação e da pós.
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Thaíse Nardim é professora do PPGArtes e do curso de Licenciatura em Teatro da UFT. Membro do grupo de pesquisa Artefacto (UFRR/CNPq). Artista da performance e poeta, membro do Coletivo Flácido (Palmas-TO). Avaliadora externa de cursos de graduação (BASis/INEP).
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