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Pesquisa da UFT transforma casca de pequi em painéis aglomerados
No Câmpus de Gurupi da Universidade Federal do Tocantins (UFT), a professora Raquel Marchesan e sua equipe de alunos e pesquisadores embarcaram em uma busca que combina ciência, sustentabilidade e um toque de sabor regional. A pesquisa, que começou em 2021, está transformando resíduos de casca de pequi em painéis aglomerados de qualidade.
A ideia surgiu da necessidade de encontrar alternativas sustentáveis para a produção de painéis aglomerados, tradicionalmente feitos com Pinus, madeira amplamente usada no Brasil por suas propriedades ideais. Porém, o estado do Tocantins não produz Pinus, o que levou a equipe a utilizar Eucalyptus como matéria-prima base. Apesar de seu rápido crescimento, a densidade variável do Eucalyptus apresentou desafios na compactação dos painéis, foi então que entrou em cena o pequi, fruto nativo conhecido da culinária regional.
Passivo ambiental
O pequi, cujo nome científico é Caryocar brasiliense, é amplamente consumido do norte ao centro-oeste do Brasil, gerando uma quantidade significativa de resíduos. Estima-se que 80% do fruto seja descartado, contribuindo para passivos ambientais. A professora Raquel e seus alunos, ao perceberem o potencial dessa biomassa desperdiçada, decidiram investigar sua viabilidade como componente dos painéis aglomerados.
Raquel conta que a pesquisa revelou que a casca do pequi, quando seca e processada corretamente, melhorou significativamente a compactação dos painéis de Eucalyptus. Com a inclusão de 50% de casca de pequi, os painéis não apenas ficaram mais densos e resistentes à tração, mas também apresentaram uma acústica superior. Todavia, essa mistura inicial absorvia muita água, o que poderia comprometer a durabilidade do produto.
Para resolver o problema da alta absorção de água, a equipe adicionou compostos naturais como tanino, lignina, nanocelulose liofilizada e látex natural. Esses agentes de reforço, além de serem mais sustentáveis que os produtos derivados do petróleo, aumentaram a resistência dos painéis e reduziram a absorção de água, tornando-os adequados para uma ampla gama de aplicações industriais.
Para a professora pesquisadora, os painéis aglomerados desenvolvidos têm um potencial considerável para o mercado, especialmente na confecção de móveis e no isolamento acústico. Além disso, explica ela, ao promover a economia circular, a pesquisa está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), contribuindo para um futuro mais verde e responsável.
Reconhecimento
O projeto ganhou a primeira colocação no programa de iniciação científica em 2023, incentivando a continuidade dos estudos. A pesquisa é um trabalho conjunto que envolve a professora Raquel Marchesan e uma equipe de acadêmicos: Júlia Gabriela dos Santos Mendes, a pioneira no projeto; Guilherme Henrique Carvalho Vieira, que conquistou o prêmio; Karolayne Ferreira Saraiva; Thatiele Pereira Eufrazio de Moraes; e Nicoli Teixeira, que ingressou recentemente.
A equipe planeja futuras combinações e proporções de casca de pequi com outros componentes naturais, visando a economia circular e a produção de painéis sustentáveis para móveis e isolamento acústico.
