Esse site utiliza cookies
UFT sediará relançamento da obra histórica "Os sertanejos que eu conheci", do frei José Maria Audrin
Na próxima quinta-feira (31 de outubro) às 19h30, no Laboratório de Música do Complexo Laboratorial de Teatro Hôôxwa, no Câmpus da UFT em Palmas, ocorrerá o relançamento da obra histórica "Os sertanejos que eu conheci", de autoria do frei José Maria Audrin. A iniciativa da reedição da é das professoras Noeci Carvalho Messias, que é historiadora e docente na Universidade Federal do Tocantins; Nei Clara de Lima, antropóloga e professora emérita da Universidade Federal de Goiás e Mariana Cunha, antropóloga e professora da Universidade Federal de Roraima.
A reedição do livro foi financiada com recursos da Lei Complementar nº 195/2022, Ministério da Cultura e a Secretaria da Cultura do Estado do Tocantins. Segundo a professora Noeci, a obra tem cinco exemplares em Braille - com objetivo de atingir o público PCD Visual - e também será distribuída para bibliotecas públicas da cidade de Palmas e Porto Nacional. "E como ação de contrapartida será feita a doação de 10% dos exemplares do livro para a Diocese de Porto Nacional; 10% para a Ordem Religiosa dos Dominicanos; 10% para escolas públicas de ensino médio e 10% para universidades e bibliotecas públicas", informa a docente. Também haverá sorteio de dois exemplares durante o relançamento e outros podem serem adquiridos durante o evento, ao valor de R$ 50.
Professora Noeci destaca que um dos objetivos da reedição do livro é fazê-lo conhecido das novas gerações de estudantes, pesquisadores e interessados nas temáticas que envolvem o sertão e suas manifestações simb´ólicas, culturais, físicas, sociais e políticas. "Acreditamos que a reedição do livro venha contribuir para o conhecimento e a valorização da história e da cultura da região, manifestas em inúmeras formas de expressão bem como com a discussão sobre o sertão, os sertanejos e suas múltiplas configurações".
O livro
De acordo com as informações dadas pelas organizadoras da reedição, a obra - que originalmente foi lançada em 1963 (vide imagem abaixo) - está estruturada em duas partes. Na primeira, o autor descreve as condições práticas da vida sertaneja, relatando sobre as caçadas, a pescaria, as tecnologias de plantação de roças e de outras atividades econômicas, que garantem alimentos, remédios, abrigo, lazer. O que se depreende desses relatos é a forte intimidade dos viventes sertanejos com a natureza, ora entendida como inóspita e hostil ora como pródiga na oferta de alimentos e outros itens necessários à sobrevivência, à reprodução biológica da vida.
A segunda parte é dedicada à descrição da vida social dos sertanejos, seus costumes, religiosidade, expressões simbólicas oriundas das misturas raciais que dão origem à pluralidade cultural brasileira. Nessa seção do livro o autor se dedica também a descrever o sistema do jaguncismo – típico das relações de poder da vida política do mandonismo local, assentadas em estruturas familiares de interesses particularistas, comumente associado ao universo sertanejo.
Segundo a historiadora Noeci, trata-se de um livro memorialista, escrito a partir das lembranças do frei dominicano, no decorrer de 34 anos de apostolado, em que percorreu os territórios entre os rios Xingu, Araguaia e Tocantins, convivendo com os habitantes da região para levar a presença oficial da igreja católica àqueles rincões onde o cristianismo era, na maior parte do tempo, vivenciado e conduzido pelos próprios moradores, por meio de festas de santo, novenas, comemorações de santos padroeiros, romarias, entre outras festividades do chamado catolicismo popular.
Nestas andanças, o dominicano de origem francesa realizava as desobrigas – batizados, crismas, casamentos etc., sendo recebido nas casas dos moradores, convivendo e participando das rotinas e do cotidiano dos habitantes daquelas paragens. Sendo um observador atento da vida das pessoas a quem ia evangelizar, nas suas jornadas pelos interiores longínquos, anotava e memorizava detalhes dos seus modos de vida, dos chamados sertanejos, habitantes dos sertões brasileiros.
"O livro é resultado dessas observações e da memória prodigiosa do frei. Escrito numa prosa de valor literário inequívoco, suas memórias revelam pormenores das relações de intimidade das populações sertanejas com o seu território. Uma intimidade que se verifica em todos os arranjos da vida social, transformada numa obra eivada da mesma poética telúrica, de saborosa leitura", pontua Noeci.
Quem foi frei José Maria Audrin?
Nasceu em Bédarieeux, Sul da França, em 1879. Foi ordenado sacerdote da Órdem Dominicana aos 23 anos de idade. Diretor do Convento de Porto Nacional.
Foi reitor do Seminário Menor São José. Em 12 de outubro de 1925, hospedou por sete dias os comandantes da Coluna Prestes.
José Maria Audrin era um grande defensor da preservação da memória e da história, foi autor dos livros “Entre Sertanejos e Índios do Norte” - em que descreve biograficamente a vida de Dom Domingos Carrerot, primeiro bispo de Porto Nacional; e “Os sertanejos que eu conheci”, em que descreve a vida do sertanejo, sua mentalidade e costumes.