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Em seis meses de atividades, Incubadora Social beneficia dezenas de mulheres com atendimentos psicossociais, palestras e oficinas
Lançada oficialmente em solenidade realizada em setembro de 2023 no Palácio Araguaia, a Incubadora Social da Universidade Federal do Tocantins (UFT) completou no mês de maio seis meses desde a realização da primeira atividade do projeto - a oficina de Beleza Afro, em Palmas, no dia 28 de novembro de 2023.
De lá para cá foi realizado um total de nove oficinas e duas palestras, com a participação de dezenas de mulheres: além do tema beleza afro, solidão e envelhecimento, direitos das mulheres, economia doméstica, autoestima e empoderamento pessoal, saberes populares relacionados a plantas medicinais, teatro voltado para o autocuidado, empreendedorismo e economia doméstica foram assuntos das atividades efetivadas pela Incubadora até aqui.
Além disso, as equipes multiprofissionais e interdisciplinares do projeto em Palmas e Araguaína já chegaram à realização de aproximadamente metade do total de 24 encontros quinzenais previstos para cada município para atendimentos psicossociais em grupos.
Com a conclusão da etapa de oficinas, os atendimentos psicossociais seguem o cronograma e a próxima fase do projeto inclui a realização de cursos de grafite, dança, design de biojóias, artesanato, produção de massas e produção de doces. O Curso de Grafite já foi iniciado em Palmas, na Escola Municipal Almirante Tamandaré, que deve receber também o curso de Dança Urbana com início previsto para ocorrer nos próximos dias. Em Araguaína, os cursos de grafite e biojoias devem iniciar ainda este mês. As informações sobre datas, horários, locais e inscrições são divulgadas no site do projeto e no Instagram @incubadorasocialuft.
Acolhimento, formação e cidadania
Nos atendimentos e oficinas, as mulheres recebem lanche, capacitação e realizam atividades voltadas para o desenvolvimento pessoal em um ambiente de acolhimento. Durante essas interações, os profissionais da Incubadora também observam questões específicas e ajudam a encaminhar as mulheres que necessitam de atenção especial para os demais serviços de assistência da rede pública.
Um dos objetivos do projeto, aliás, é fortalecer a articulação dessa rede interinstitucional. Por isso, a Incubadora já promoveu, até o mês de junho, três reuniões de trabalho com a participação de diversas entidades com o objetivo de discutir políticas públicas e definir possíveis protocolos e práticas de atendimento que sejam mais efetivos para atenção às pessoas em situação de vulnerabilidade social, em especial mulheres em situação de rua.
Segundo a coordenadora do projeto e pró-reitora de Extensão da UFT, Maria Santana Milhomem, além da realização dos cursos, no próximo semestre a Incubadora pretende intensificar as parcerias com o estado e os municípios a fim de fortalecer o encaminhamento das mulheres capacitadas e atendidas pela Incubadora em vagas de emprego, tendo em vista que a garantia de renda e trabalho é fator crucial para a autonomia e a qualidade de vida das beneficiárias.
"Tem sido instigante trabalhar nesse projeto porque estamos vendo o quanto a Universidade precisa estar em consonância com as políticas públicas dos governos federal, estadual e municipal para pessoas em situação de vulnerabilidade. E os desafios só tem nos motivado a continuar lutando por um estado do Tocantins diferente, livre de violência e com um pensamento diferenciado no sentido do patriarcado", acrescenta Santana.
Desafios e perspectivas
Até a finalização do projeto estão previstos 48 encontros para atendimentos psicossociais, sendo 24 em Palmas e 24 em Araguaína, além de dez oficinas, dez cursos e duas palestras distribuídos entre os dois municípios.
Segundo Hareli Cecchin, uma das psicólogas que atua no projeto, alguns dos principais desafios estão relacionados à própria condição de vulnerabilidade das participantes. "A maioria das participantes são idosas, muitas vezes enfrentando problemas como pobreza, violência doméstica e falta de acesso a serviços básicos, o que dificulta até mesmo o deslocamento delas aos locais de atividade e a participação contínua no projeto", destaca a profissional.
Para isso a equipe tem se empenhado em reforçar parcerias com as secretarias municipais para ampliar a divulgação da Incubadora para as pessoas que mais precisam, assegurar veículos para o transporte das participantes e locais acessíveis para a realização das atividades.
Mas há ainda outros desafios relacionados ao sofrimento emocional, à baixa escolaridade, a estigmas sociais e questões culturais. "Temos nesse grupo muitos relatos de sofrimento emocional, perdas significativas (como morte de familiares) e vivência de violência. Some-se a isso o fato de que algumas participantes são analfabetas, e muitas têm pouca familiaridade com tecnologias, o que dificulta o acesso a informações. Além disso, a dimensão religiosa e as normas culturais sobre papeis de gênero e família são muito fortes entre as participantes, o que cria resistência a participação em certas dinâmicas propostas".
Apesar disso, semana após semana, a equipe multiprofissional tem percebido resultados e apresentado relatos promissores. "Os principais resultados esperados são o aumento da autoestima e da autonomia dessas mulheres e o fortalecimento de vínculos comunitários que sirvam como uma rede de suporte, solidariedade e inclusão social, o que deve promover impactos positivos no bem estar e na saúde mental as participantes", pontua Hareli.
Além disso, a experiência da Incubadora Social vai se transformar em uma cartilha sobre direitos das mulheres, um material educativo que, juntamente com o fortalecimento das parcerias estratégicas da rede, poderá projetar os resultados do projeto para as comunidades em médio e longo prazo.
De acordo com dados preliminares, as participantes da Incubadora Social têm entre 12 e 88 anos de idade, sendo que 64% tem mais de 40 anos. Com relação a cor e raça, 83% das participantes se reconhecem como mulheres negras - pretas ou pardas. Em relação a estado civil, 42% são solteiras, 25% casadas ou vivem em união estável, 14% viúvas e 18% divorciadas ou separadas. A maioria das beneficiárias (78%) tem pelo menos um filho.
27% das mulheres atendidas pelo projeto moram sozinhas e, em 66% dos casos, são elas as principais provedoras dos lares onde vivem, mas dependem, principalmente, de programas de assistência social para suprir suas necessidades básicas. 46% das participantes vive com até um salário mínimo por mês, 11% vive com até meio salário mínimo e 13% afirma não ter nenhuma renda. Entre as mulheres participantes da Incubadora, 27% são aposentadas, apenas cerca de 12% têm emprego formal, com carteira assinada, e cerca de 31% se encontram desempregadas.
Depoimentos
"Hoje a gente já vê muito resultado. Muitas pessoas falavam que antes se sentiam depressivas, agressivas, e hoje se sentem tranquilas. A gente vê que as pessoas se sentem melhor, e nas semanas que não têm [encontro] as pessoas sentem falta. Eu comunico meus vizinhos, falo pra eles participarem também. E pra mim, na minha experiência, tem sido muito bom", conta Reijany, de 38 anos com um sorriso no rosto ao fim de mais uma manhã de atividades.
"Esse projeto foi algo muito lindo na minha vida. Eu me senti muito feliz [quando comecei a participar]. Eu era triste dentro da minha casa, mas depois só senti alegria. Primeiro porque tenho Deus na minha vida, mas segundo porque conheci esse grupo de amigas aqui do CRAS. Eu me senti outra pessoa. Estou muito feliz", diz dona Maria, também beneficiária da Incubadora.
"Hoje é a terceira vez que eu participo da Incubadora e estou amando, porque eu estava dentro de casa, sem expectativa nenhuma, e hoje eu tô bem. A manhã passou rapidão e foi maravilhoso", conta Carlene, outra participante dos atendimentos psicossociais.
"Esse projeto pra mim tá sendo muito bom, muito valoroso. Eu me sinto muito bem. Tenho depressão, mas depois que eu vim pra cá estou me sentindo outra pessoa! E peço pra quem tiver problema, se estiver em casa, não fique no quarto não, saia e venha prá cá. É muito bom. Estar com esse povo aqui é maravilhoso!", pontua, entusiasmada, dona Júlia.