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Rosamaria Padgett: "Universidade deve ser farol de sustentabilidade"
Neste mês de maio, a Universidade Federal do Tocantins (UFT) passou a integrar a Rede Brasileira de Instituições de Ensino Superior para o Desenvolvimento Sustentável (UniSustentável), sendo uma das duas primeiras instituições da Região Norte a fazer parte do rol de membros da organização.
O Portal UFT entrevistou a coordenadora da Rede e professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Rosamaria Cox Moura Leite Padgett. Administradora formada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rosamaria é doutora em Administração pela Universidade de Salamanca (Espanha) e também mestre em Desenvolvimento Local Sustentável e Economia Social.
Nesta entrevista, ela fala sobre os desafios e perspectivas da UniSustentável.
5 Perguntas para Rosamaria Padgett
Portal UFT: A Rede UniSustentável foi criada em setembro de 2023 e você deve ficar à frente da instituição, como coordenadora, até 2025. Qual a sua expectativa em relação a esse período, ou que resultados você espera que a Rede alcance até o final da sua gestão?
Rosamaria Padgett: Espero que até 2025 nós tenhamos uma UniSustentável maior, mas não maior apenas em número de IES [Instituições de Ensino Superior], mas maior, também, no seu impacto na sociedade. Que ela gere muitos frutos da colaboração entre as IES, buscando cada vez mais atrelar as suas ações fins - de ensino, pesquisa e extensão - com a sustentabilidade, assim como a gestão dos câmpus e a governança das instituições.
Portal UFT: Conforme as informações disponíveis no site, até o momento a Rede conta com 20 membros, entre Universidades, Centros Universitários e Institutos Federais, inclusive a UFT, que foi uma das duas primeiras instituições da Região Norte a se integrar ao corpo de membros. Ainda é um número pequeno diante da quantidade de Instituições de Ensino Superior que existem no Brasil, sobretudo considerando que a rede inclui instituições públicas e privadas. A que você atribui essa ainda baixa adesão, considerando já oito meses desde o lançamento da UniSustentável? Você considera que há focos de resistência ao projeto por parte das instituições?
Rosamaria Padgett: Bem, na minha opinião, 20 IES não é pouco. Por quê? As IES que estão na UniSustentável não estão simplesmente com a sua logo aparecendo na página web. Existe o comprometimento de um envolvimento da IES em grupos de trabalho. Da IES efetivamente contribuir com outras IESs na busca da sustentabilidade nas suas ações fins, além da gestão e governança dos câmpus. Então eu considero esse número de 20 IES muito bom para o tempo da UniSustentável e realmente vejo que a nossa métrica de sucesso não é o número de IES filiadas, e sim as contribuições que a rede consegue possibilitar através das suas ações para a comunidade acadêmica das IESs filiadas.
Portal UFT: Um dos objetivos da rede é fortalecer a promoção da sustentabilidade no próprio ambiente universitário. Quais seriam os principais desafios ou questões, por assim dizer, "antissustentabilidade" que precisam ser enfrentadas nas Universidades, na sua opinião, e que deveriam receber atenção prioritária das instituições?
Rosamaria Padgett: Olha, eu acho que um grande desafio para trabalhar com sustentabilidade dentro das IESs é trabalhar a sustentabilidade com uma abordagem institucional integral. É dizer: eu vou trabalhar a sustentabilidade em todos os âmbitos na gestão e governança da organização da universidade. Dessa forma, eu não tenho projetos isolados, a sustentabilidade passa a ser parte da cultura da IES. E quando isso acontece, já não se consegue fazer nada na IES sem se pensar de que forma que isso contribui com o desenvolvimento sustentável do território em que a IES está inserida. E hoje nós temos como documento noteador principal a Agenda 2030, os ODSs [Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU]. Então, esse instrumento é ótimo, pois a IES pode atrelar todas as suas ações à contribuição para com uma das 169 metas dos 17 ODSs.
Portal UFT: A exemplo da enchente que está devastando o Rio Grande do Sul desde o início deste mês, temos vivenciado diversas tragédias no mundo todo relacionadas às mudanças climáticas que trazem à tona evidências da insustentabilidade da sociedade em seu formato atual. Mesmo assim, a voz da ciência continua sendo colocada em segundo plano, e muito do conhecimento que vem sido produzido e acumulado em grande parte nas nossas universidades é sistematicamente ignorado. Você acredita que a Rede UniSustentável pode ter algum impacto para reverter essa situação, na prática, ou é apenas mais uma utopia?
Rosamaria Padgett: Olha, a rede em si agora não consegue criar um impacto relevante, porque a gente ainda não está estruturado em um grupo. Nós não temos ainda estruturado, por exemplo, um grupo de estudos específicos em câmbio climático. Isso até é uma demanda que está surgindo agora, que a gente tem que estruturar, e provavelmente vai ser um novo grupo de trabalho. Mas ainda é uma ideia embrionária, então não consigo fazer essa afirmação nesse momento. No entanto, eu gostaria de ressaltar que a universidade tem, sim, um papel muito relevante nessa questão, dado que a universidade tem responsabilidade de não ser um espelho da sociedade. Ela não refletir simplesmente o que acontece na sociedade. Ela deve ser farol, ela deve iluminar o caminho da sociedade, da comunidade em que ela está inserida. E as ações para mitigar as mudanças climáticas é uma das lâmpadas que devem ser acendidas nesse farol.
Portal UFT: Por enquanto ainda não há boas práticas publicadas no site da UniSustentabilidade... mas, considerando que um dos objetivos da rede é promover a troca de experiências e divulgar iniciativas positivas que vão de encontro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável previstos na Agenda 2030 das Nações Unidas, você poderia dar um spoiler para os leitores do Portal UFT e nos contar alguma iniciativa que já tenha sido mapeada e sirva de inspiração?
Rosamaria Padgett: Sim, nosso site ainda está em construção, não conseguimos alimentar ainda, mas já temos algumas práticas. Por exemplo, na UFMS, nós temos o desafio "UFMS Mais Sustentável", que é um edital em que as empresas júnior e os grupos da Enactus Brasil, que alíás é aliada estratégica da Rede UniSustentável, realizam propostas de projetos para tornar a UFMS mais sustentável, e os vencedores desses projetos recebem recursos para executar esses projetos no próprio câmpus, Temos também uma boa prática do Cefet do Rio de Janeiro, que faz a coleta de maquiagens vencidas. A maquiagem é um resíduo que traz malefícios para o meio ambiente, então eles fazem o recolhimento adequado e utilizam esse material em oficinas de arte para a comunidade carente. Além dessas, temos diversas outras boas ações que em breve estarão no nosso site e também devem ser publicados alguns artigos que estão sendo elaborados sobre boas práticas das nossas IESs.