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Em prol das vozes amazônicas
Entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, Belém/PA será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP/30. Apesar de sua importância, o evento não está isento de críticas, como as levantadas pela socióloga Marilene Corrêa, da UFAM e da SBPC, que, em evento realizado no Valer Teatro, em Manaus, destacou “a flagrante exclusão dos movimentos sociais, das academias científicas e das populações tradicionais amazônicas”.
Nesse contexto, surge a urgência de reivindicar a posição das academias científicas e universidades, em especial amazônicas, como agentes essenciais na promoção de uma agenda ambiental brasileira e global, bem como garantidoras da inclusão dos saberes das populações tradicionais na formulação de políticas públicas.
O papel das universidades vai além do ensino e da pesquisa sobre mudanças climáticas, como assevera o livro Education and Climate Change: The Role of Universities, organizado por Fernando M. Reimers (ed. Springer, 2021). Formar futuros líderes sensíveis às questões ambientais e cidadãos capazes de integrar essas preocupações nas suas comunidades, claro, é uma missão imprescindível, mas não suficiente. Afinal, o futuro já chegou, a crise climática já é uma realidade e a ameaça iminente da “queda do céu” exige respostas imediatas e concretas.
Para tanto, é necessário que se promova uma compreensão mais profunda dos sistemas de valores humanos, das normas culturais e sociais que moldam nossa relação com o meio ambiente, e da urgência em transformar essas estruturas para que favoreçam uma convivência mais harmônica com a natureza. O quanto isso implica em uma educação que favoreça valores opostos à da intensa acumulação financeira e monetária, sob o império do crescimento, como os propostos pelo movimento político do décroissance, é algo a ser debatido. Afinal, será que não há outras razões para viver e pelas quais viver? Parte das culturas tradicionais respondem que sim. E isso é algo que podemos aprender com elas.
Mas também há mais. Marcellus Mbah, Ane Turner Johnson e Ferdinand M. Chipindi em artigo publicado no International Journal of Educational Development, por exemplo, concluíram que ao institucionalizar o saber dos povos tradicionais nas universidades, não apenas se promove um desenvolvimento mais inclusivo, mas também se fortalece a identidade cultural e histórica das comunidades. Por sua vez, em outro estudo, publicado na revista Sustainability ,Nadzirah Hosen, Hitoshi Nakamura e Amran Hamzah observaram que o conhecimento ecológico tradicional auxiliou comunidades indígenas em Sarawak, Bornéu e Malásia, a se adaptarem aos riscos climáticos e a promoverem a resiliência socioecológica, melhorando a segurança alimentar e de recursos. Há, portanto, uma literatura científica consolidada e revisada por pares que aponta para os benefícios concretos da integração dos saberes das populações tradicionais na universidade e na formulação de políticas públicas.
A COP/30 poderia ser uma oportunidade vital para reconhecer e incluir as vozes das populações tradicionais amazônicas nas discussões climáticas brasileiras e globais. E as universidades, ao integrar o saber tradicional e acadêmico, podem se tornar agentes essenciais na promoção de soluções sustentáveis e na construção de um futuro mais equitativo. Ainda há tempo.
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