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Provas do Exato foram equilibradas e apresentaram contextualização regional, afirmam professores
"Inovadora", "equilibrada", "contextualizada", "interdisciplinar": estes foram alguns termos utilizados por professores de diferentes áreas do conhecimento para descrever as provas da primeira edição do Exame de Acesso ao Ensino Superior do Tocantins (Exato), após a divulgação dos cadernos de questões e do gabarito provisório. As provas foram aplicadas neste domingo (15) com a participação de cerca de 3,9 mil estudantes. Entre os participantes ouvidos pela reportagem, "boa" e "não muito difícil" foram as principais classificações que figuraram nos comentários.
Na análise do professor Charles Silva, licenciado em Química, a prova do Exato apresentou um nível mais acessível em comparação com as provas do vestibular. "Notavelmente, não exigiu cálculos químicos complexos, como estequiometria e soluções, nem conceitos avançados de termoquímica e físico-química. Isso sugere que os alunos podem ter vantagem competitiva nesta prova", analisou.
O também professor de Química Wagner Soares Alencar, conhecido nas redes como Professor Alencar, que acompanha os processos seletivos da UFT desde 2019 e tem mais de 20 anos de experiência no magistério, concorda. Segundo ele, a prova foi interessante e teve um nível de dificuldade razoável. "Não houve nenhuma questão muito difícil, que exigia um conhecimento mais profundo. [...] De uma maneira geral as questões estavam no nível baixo e médio, se for para a gente classificar [por nível de dificuldade]", observou.
Ele pontuou a diferença do número de alternativas por questão, que nos vestibulares da UFT eram normalmente quatro; e no Exato foram cinco (A, B, C, D e E), e destacou que, na divisão por áreas do conhecimento, a Matemática acabou prevalecendo sobre as demais disciplinas. Para o professor, a prova foi bem elaborada, mas, na opinião dele, pelo menos uma questão de química pode gerar dúvidas quanto ao gabarito por diferentes possibilidades de interpretação.
Para o professor João Barreira, que analisou as questões de Biologia, na área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, a prova do Exato foi mais direta em relação ao conhecimento específico exigido em cada questão se comparada às provas do Enem. "Esse tipo de avaliação tem a vantagem de acessar mais objetivamente a compreensão do aluno acerca das competências e dos objetos do conhecimento inerentes ao ensino básico", disse ele. "Já em relação ao vestibular tradicional da UFT, o Exato mostrou-se mais suscinto na forma de apresentar as questões e as alternativas, mas, para a área de Biologia, manteve as tendências previstas dos principais objetos dos conhecimentos contemplados nos anos anteriores", completou.
Bruno Siqueira, professor de Física, também observou diferenças e semelhanças entre o Exato, o Enem e os tradicionais vestibulares da UFT. "As questões de Física, componente curricular da área de Ciências da Natureza, exploraram contextos do cotidiano, como o cálculo de consumo de energia, fenômenos físicos associados à Terra e suas transformações climáticas (como a potencialização do efeito estufa), a relação entre movimentos uniforme e uniformemente variado com o aumento dos índices de acidentes devido ao uso do celular ao dirigir, a aplicação das Leis de Newton em situações experimentais, a relação de fenômenos ondulatórios no cotidiano e aplicações das leis do Eletromagnetismo. Todos esses contextos provavelmente foram inspirados na prova do Enem, uma vez que o próprio edital do Exato apontava essa referência. Vale destacar que a questão de número 30 já havia sido utilizada no Enem 2023, no segundo dia de provas, correspondendo à questão 128 do caderno azul. Por outro lado, em relação ao vestibular da UFT, as diferenças são bastante relevantes. A maioria das questões do vestibular da UFT é menos contextual, exigindo dos candidatos aplicações mais diretas dos objetos de conhecimento da disciplina de Física", destacou.
Para a professora de Matemática, Luana Menta, especialista em docência do ensino superior e diretora do curso Federal Preparatório, a prova do Exato teve contextualização, com questões relacionadas a situações reais, interdisciplinaridade, exigindo integração com outras áreas do conhecimento, diversidade, abordando diferentes contextos e culturas, inclusive locais, e rigor. "A prova teve questões desafiadoras, mas não impossíveis", disse ela. "Eu amei a prova, e meus alunos também!"
"Em relação aos vestibulares da UFT, a prova do Exato se destacou, ao meu ver, porque apresentou uma excelente abordagem contextualizada, integrando conceitos matemáticos a problemas do dia a dia, o que contribui para uma avaliação mais eficaz das competências dos estudantes", afirmou Luana. Outro ponto positivo, segundo ela, foi a utilização de recursos visuais, como imagens, gráficos e tabelas para ilustrar conceitos matemáticos complexos, facilitando a compreensão das questões. "Essa prova tem potencial para se tornar um sucesso ao longo dos anos, selecionando candidatos qualificados para o ensino superior", pontuou.
Linguagens
Sobre a prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, aplicada pela manhã, o professor Anderson Damasceno, mestre em Letras e com 20 anos de experiência em sala de aula, fez uma avaliação positiva e a considerou "bem elaborada". Para ele, a prova foi rica em conteúdos, balanceada no nível de dificuldade e ancorada na realidade dos estudantes.
"Numa visão panorâmica, a gente percebe três pontos muito interessantes: primeiro que a prova está bem distribuída, cobrando conhecimento gramatical, interpretação textual, tipologia textual, variação linguística [...] assim como conhecimento literário e das artes plásticas [que também estão ali contempladas]. Num segundo ponto, a gente percebe a presença de escritores da década de 30, como Graciliano Ramos; e textos da atualidade, como a canção Só Fé, do Grelo - tudo isso bem distribuído. Um terceiro ponto é que a prova dialoga com os vestibulares, de modo geral, de escala nacional. Muitas questões de artes dialogam com conteúdos que são recorrentes no Enem, como as vanguardas históricas e a arte contemporânea. [Assim,] estudar questões do Enem também contribuiria bastante com [quem foi fazer] a prova do Exato", ressalta o professor Damasceno.
Wilsoni Nunes da Fonseca, também licenciado em Letras e professor de Língua Portuguesa, destacou a inclusão de conteúdos como estrutura da língua (elementos coesivos e classes de palavras), gêneros textuais diversificados (inclusive elementos visuais e não-verbais) e textos contemporâneos e regionais. Para ele, a abordagem atualizada e relevante para jovens, a inclusão da literatura regional, a objetividade e clareza das questões, e o nível de dificuldade moderado foram pontos positivos do Exato. "A prova foi considerada relativamente fácil, exigindo conhecimento básico de gramática e interpretação textual", Segundo ele, os estudantes se sentiram confortáveis durante a prova, que cumpriu o proposto no edital.
Referências regionais
A contextualização regional também foi um dos pontos fortes do Exato destacados pelo professor de História Emanuel Martins, especialista em história dos povos afro-brasileiros e indígenas. "A prova incorporou elementos da História e Geografia do Tocantins, abordando questões locais, como a história dos povos indígenas, conflitos durante a Primeira República e monumentos históricos", observou ele. Além disso, "apresentou uma abordagem inovadora", relacionando teoria e o conhecimento histórico com a prática da sala de aula, de forma "adequada para estudantes recém-saídos do ensino médio".
Para ele, a prova foi bem planejada, abordou temas que têm relevância social e promovem uma reflexão crítica dos estudantes, como preconceito, cidadania e visão política, e apresentou questões lógicas e coerentes. "A prova foi bem elaborada, seguindo o modelo do Enem, apresenta contextualização regional relevante e questões desafiadoras e bem estruturadas, que promovem o pensamento crítico, além de integração disciplinar eficaz, combinando conteúdos de História, Geografia, Filosofia e Sociologia."
Autores regionais, como Juarez Moreira Filho e a obra Mangaratiba; Célio Pedreira e a obra As Tocantinas; e Lucelita Maria Alves (Lita Maria) e a obra Sobre Dora e dores marcaram presença na prova de Linguagens, aplicada pela manhã, que também teve textos sobre as quebradeiras de coco babaçu e o artesanato de capim dourado.
O capim dourado também apareceu na prova de Matemática, assim como outras referências regionais, a exemplo do Parque Cesamar e do clima do Tocantins, com suas altas temperaturas.
Na prova da tarde, que abordou Ciências Humanas e Ciências da Natureza, figuraram referências como o pesquisador Hilton Japiassu, maranhense que passou parte da vida radicado no Tocantins, o Memorial da Coluna Prestes, situado na Praça dos Girassóis, conflitos territoriais do Tocantins e a história de etnias indígenas originárias do território do estado, como os povos Krahô e Xerente.
Para o professor Wagner Alencar, a proposta de uma prova unificada para a UFT, o IFTO e a UFNT é interessante para os estudantes. "Entretanto, cabe aqui uma ressalva: seria muito interessante que a UFT tentasse. no Exato, manter a sua identidade, que é também, de certa forma, a da UFNT, que foi desmembrada da UFT e até hoje não teve um vestibular tradicional dela, um vestibular próprio. O IFTO tem a sua identidade também, Então, de repente, tentar colocar a identidade das três instituições nesse exame, diferenciando-se assim do Enem. Não é interessante que a proposta seja parecida ou se tornar semelhante ao Enem, muito pelo contrário. A proposta do regionalismo ela deve prevalecer, até mesmo porque garante uma probabilidade maior de alcance do pessoal que está no entorno, do pessoal que faz parte da região, que tem uma probabilidade de se matricular e fazer o curso muito maior", afirmou.
Percepção dos estudantes
"Eu achei uma prova muito boa, porque não 'tava' tão difícil. Foi conteúdo que a gente já viu, então eu achei muito boa e eu esperava isso", disse a estudante Agatha Vitória, de 18 anos, que ainda não sabe em qual curso pretende tentar ingressar com a nota do Exato.
A amiga dela, Evelyn Oliveira, de 17 anos, que quer cursar Ciências Contábeis, concorda "[...] a primeira edição acho que foi pra não assustar muito o pessoal", comentou.
Gabrielle Rezende, de 16 anos, chegou para fazer a prova sem grandes expectativas, mas saiu confiante. "Eu não queria colocar expectativa logo agora, pra gente ver como é que 'tava' a prova, mas achei uma prova boa, [...] então querendo ou não a gente sempre coloca, né? O tema de redação eu gostei, sinceramente, é um tema que muita gente já esperava, mas é um tema muito bom de desenrolar ali, e é isso, [...] vamos ver como é que vai ser o resultado".
Próximas edições
Para 2025, a Comissão Permanente de Seleção da UFT (Copese) já anunciou que não fará vestibular, e que irá realizar duas edições do Exato: uma em maio e outra em outubro. Por isso, segundo o pró-reitor de Graduação da UFT, Eduardo Cezari, essa análise da primeira prova é fundamental.
"Essa avaliação dos estudantes, mas especialmente dos professores, é fundamental para o comitê de elaboração do Exato. Todas as sugestões, e as críticas também, serão levadas ao comitê gestor para que possamos aprimorar cada vez mais o processo. Essa visão de quem está na base, atuando diretamente com os nossos futuros estudantes, vai nos ajudar a construir as próximas edições do Exaro. É preciso ouvir o professor da educação básica, o estudante da educação básica, para que o exame reflita a realidade do Tocantins e ganhe identidade," disse ele. "Eu fiquei muito satisfeito com essa avaliação inicial e pretendemos ouvir mais feedbacks. Todas as colocações serão levadas em consideração para garantir a melhoria dos processos", completou.